domingo, 1 de julho de 2012

My Weenkel - Rede Social: Ressignificação do Consumo

My Weenkel - Rede Social: Ressignificação do ConsumoRessignificar o consumo é agregar aos atos de compra e descarte e, aos bens desejados em si, um significado pessoal e transferível, mudando a motivação e a forma como o mundo está consumindo.

Ressignificação do Consumo


Ressignificar é dar um novo significado. Logo, quando aplicado ao consumo, significa dar um novo sentido ao consumo. Em outras palavras, podemos dizer que se trata de mudar a motivação e a forma como o mundo está consumindo atualmente: desenfreada, inconsciente e desrespeitosamente, muitas vezes, sem atribuir um sentido real ao que se compra e ao que se usa, onde tal ação torna-se apenas mais um simples hábito, realizado fria e automaticamente, sem a presença dos valores intrínsecos presentes antigamente quando da aquisição de um objeto de desejo pelas pessoas.

Até algum tempo atrás o conceito de “feitos para durar” era predominante entre os produtos oferecidos no mercado. Os objetos eram pensados para ter um ciclo de vida mais longo, priorizava-se a manutenção em detrimento ao descarte, a reposição de partes ou o conserto ao invés da inutilização completa dos aparatos cotidianos, principalmente eletrônicos. Os clientes criavam um vínculo com produtos e marcas, pois sabiam que suas escolhas seriam marcadas por uma longa história de uso, em que desapegar-se seria uma tarefa difícil, quando necessária.

Evoluímos, e muito. Talvez até demais. Aprendemos a produzir em maior escala, com menores custos e em menor tempo, mantendo uma qualidade maior ou igual ao modelo anterior, porém, atribuímos aos produtos o fator “descartável”. Junto com a qualidade, evoluímos no quesito “praticidade” e “involuímos” nos quesitos “consciência”, “poder” e “controle”.

No meio acadêmico há uma discussão sobre os conceitos de “technology push” e “demand pull”. Nesta batalha evolutiva, quem está no comando? A tecnologia, que já ganhou vida própria e evolui de forma que foge ao controle do homem, demandando complementos e empurrando ao mercado novidades antes mesmo que as anteriores tenham sido assimiladas? Ou seria o homem quem demanda a rápida evolução da tecnologia, com suas necessidades cada vez mais complexas e exigentes?

Hoje as pessoas sentem-se diariamente atrasadas com relação á tecnologia, apresentando um perfil de comportamento com relação à inovação bastante diferente de uns anos atrás, onde apenas uma pequena minoria, conhecida como early adopters (os primeiros adotantes) era movida pela novidade e fazia questão de estar entre os primeiros a adquirir os últimos lançamentos. Eram os responsáveis pela aprovação ou rejeição de produtos que, dependendo da primeira impressão causada, não seriam capazes de cruzar o obscuro abismo entre as fases de lançamento e a maturidade, chegando à massa de consumidores com a fama que viessem a ganhar destes “sommeliers” da inovação, o que determinaria o sucesso ou a rápida queda do novo produto.

O que antes era uma minoria de primeiros adotantes, aparenta ter crescido e se tornado a maioria ativa. O acelerado ritmo de lançamentos de produtos no mercado faz com que os consumidores sejam submetidos a ofertas com poucas semanas de diferença entre si, como ocorre com os celulares, tablets etc. Ao realizar uma compra o consumidor normalmente se baseia “no último lançamento”, “no mais atual e avançado” como referência de qualidade e eficiência para adquirir o que caiba em seu bolso. Sai insatisfeito com o novo bem, por saber que já está adquirindo algo ultrapassado, antigo e superado por uma novidade que provavelmente aparecerá nas mãos de algum outro amigo de seu círculo social. Pior sensação é a de voltar à mesma loja poucos meses depois, e perceber a redução do preço do item comprado, também devido ao surgimento de novidades, mais atrativas.

Desta forma, nos condicionamos á uma eterna insatisfação e á constante equivocação quanto ao valor que atribuímos aos nossos bens. Nos cegamos pela pressa, pela necessidade de atualização, sem desfrutar do processo de transição entre uma tecnologia e outra como deveríamos, tirando o máximo proveito de cada.

Ressignificar o consumo é agregar aos atos de compra e descarte e, aos bens desejados em si, um significado pessoal e transferível. Durante toda a vida estivemos em contato com artefatos que, de alguma forma, foram marcantes e contribuíram mais expressivamente para nossa formação do que outros, que tiveram maiores aplicações na resolução de problemas ou facilitaram a realização de atividades diárias com maior eficiência e eficácia. Este significado foi o que motivou a compra, momento este marcado pela reflexão sobre o benefício que o indivíduo teria pelo seu uso, permitindo-lhe atribuir um alto valor ao objeto, provocando a sensação de satisfação. O consumidor deve dar um significado maior àquilo cujo benefício se compara ao malefício de não ter o produto, e não às desvantagens deste com relação a um modelo mais atual. Ou seja, se seguimos comparando um produto com sua melhor e mais atualizada versão, deixaremos de ver as vantagens que teríamos pelo simples fato de ter o produto pelos benefícios que ele nos traz.

Na outra extremidade do ciclo de vida do produto e dentro da era do “feitos para descartar”, temos o desafio de pensar soluções que nos permitam mitigar os sentimentos de insatisfação e atraso tecnológico que impulsionam as pessoas a desfazerem-se de seus bens antes do completo desgaste por uso. O conceito de ressignificação do consumo prevê, também, a capacidade de transferência de significados, onde, o produto que já não apresenta um valor satisfatório para um consumidor, pode representar uma novidade e ser tratado como tesouro por outro. Junto com o produto transfere-se uma história, um significado, um valor abstrato que não pode ser aplicado em forma de moeda. Seu valor se torna ainda maior quando o indivíduo pratica o desapego, doando, trocando ou vendendo aquilo que já lhe foi importante, dando ao próximo, a oportunidade de ter também sua história com o novo objeto adquirido.